Postagens

Mostrando postagens de setembro, 2019

Relatos amazônicos 5 - Comunidades indígenas

Imagem
As três canoas descem o rio Negro levadas a remo, conduzindo o grupo de viajantes e uma caixa de isopor com comida e água. Serão três praias fluviais a serem visitadas, superfícies de areia formadas com o recuo das águas do rio nesta época de vazante. Na volta, para subir o rio, os canoeiros ligam os motores. Cada canoa é equipada com um pequeno motor na popa, o que me lembra as “rabetas” do São Francisco. Esta é a manhã do segundo dia na comunidade indígena de Boa Vista do Rio Negro. Trata-se de um núcleo de 17 famílias da etnia baré que habitam um espaço na margem direita do rio, de onde se tem uma bela paisagem das águas e das elevações que formam a Serra de Tapuruquara. Dessa posição privilegiada quanto à paisagem, veio o nome da comunidade. Na vazante é exposto um largo afloramento rochoso, uma espécie de laje, que serve como porto rudimentar, local de banho e ponto de lavagem de roupas e de diversão. Passo por uma sensação estranha nesta manhã. A superfície infinita das

Relatos amazônicos 4 - Barco regional

Imagem
Escrevo este relato sentado numa rede armada no piso superior da embarcação que nos leva de Manaus a Santa Isabel do Rio Negro. Para mim é o início da segunda fase da jornada pela Amazônia, a visita às comunidades indígenas da Serra de Tapuruquara, organizada pela Garupa, ong socioambiental de São Paulo. Os organizadores tratam essa viagem como uma “aventura”, o que considero discutível. Ainda que o nome “aventura” seja muito desejado para qualificar viagens como essa; e mesmo “expedição”, muito utilizado há alguns anos, mantenha o seu encanto, penso que não se trata de nenhum deles. É uma viagem de cunho socioambiental, inserida no turismo comunitário. No dia anterior deixei a simpática Santarém para seguir para Manaus por via aérea, onde me encontraria com o grupo que realizará a viagem. Passei parte da última manhã em Santarém aproveitando a bela vista do terraço do hotel, de onde se pode admirar o curso paralelo dos dois rios, este admirável cenário que constitui um dos valor

Relatos amazônicos 3 - Caminhando pela mata

Imagem
Rio, cidade, floresta. Acordo bem cedo, o sol começando a brilhar no horizonte, tomo um lanche rápido no hotel e pego o ônibus de linha para Alter do Chão. Em uma hora, percorro o trajeto já conhecido e chego à vila, de onde pegarei o barco para a comunidade ribeirinha de Jamaraquá. Esse é um dos itinerários possíveis para se chegar à Floresta Nacional dos Tapajós, importante reserva ambiental que é um dos meus objetivos na região. Conhecendo-a completarei a tríade que, para mim, resume esta primeira fase da jornada pela Amazônia. No dia anterior o barqueiro havia me incluído num grupo de cinco turistas, hospedados em Alter do Chão, e eu estava curioso sobre quem encontraria. Cinco jovens, quatro mulheres e um homem, com os quais a empatia foi imediata. Antes mesmo de se apresentar, uma delas, de João Pessoa, me olhou de cima a baixo, reparando no boné, bermuda e tênis de trekking , e sorrindo comentou: "Estás mesmo com look de quem vai fazer caminhada". "Bom sin

Relatos amazônicos 2 - Alter do Chão

Imagem
"Estou sozinho", dispara o gatilho mental assim que abro os olhos na manhã do segundo dia em Santarém. Passo os próximos minutos apaziguando a mente, mantendo-a quieta, de forma a evitar que ela inicie uma produção de pensamentos que, bem sei eu, não levará a emoções agradáveis. Viajar sozinho é uma prática pouco comum e frequentemente encarada com receio pelas pessoas. E a mente sabe disso. Uma vez, no norte da Índia, fui agarrado pelo pescoço pelo demônio da angústia de estar sozinho. Chegara a Rishikesh com meu filho e minha nora e os primeiros dias na cidade foram relativamente agradáveis. Passado esse primeiro período, eles rumaram para Goa, no longínquo sul do país, onde fariam um curso de yoga. E eu fiquei sozinho.  A programação era que dali a um mês, encerrado o curso, voltaríamos a nos encontrar, para juntos seguirmos para o Nepal. Tão logo eles partiram, a pouco e pouco, de forma sutil, o demônio passou a me rondar. As condições ambientais, sempre decisiva