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Mostrando postagens de outubro, 2019

Relatos amazônicos 8 - De Novo Airão para o Jaú. Anavilhanas

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Três quarteirões. É o espaço que me separa do Centro de Atendimento ao Turista de Novo Airão. Normalmente essa distância nada significaria, mas estou numa cidade amazônica ao meio-dia. O sol inunda e aquece explosivamente tudo; afinal, estamos a apenas dois graus e meio abaixo da Linha do Equador. E na planura absurda em que se espalha a cidade não se vê uma elevação, um incidente e, até onde consigo avistar, nenhuma árvore ou marquise que proveja alguma sombra. A planura, que em princípio seria positiva para o caminhante, traz na realidade uma sensação de resistência e invencibilidade. Os quarteirões de Novo Airão, se não o são, parecem bem mais longos do que em outras cidades. Chegara na cidade na noite anterior, fazendo da última etapa da jornada pela Amazônia uma espécie de ataque rápido, pouco planejado e incisivo. Viera num dos chamados táxis-lotação, transporte público em automóvel privado, por meio do qual podem viajar, entre Manaus e Novo Airão, até quatro passageiros. Disp

Relatos amazônicos 7 - Nas águas melancólicas

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Sinto o chão de madeira mover-se de um lado para o outro, num balanço muito suave, quase imperceptível. Aproximo-me da janela e subitamente uma oscilação um pouco mais forte me desequilibra. Dou uma pisada de lado, corrijo o corpo e sorrio. A sensação é inteiramente nova para mim. Lá fora a água bate com força num obstáculo: "splash!". O som é muito próximo. Estou no interior de uma habitação flutuante ancorada no rio Japurá. São as instalações da Pousada Uacari, situada no interior da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, uma enorme unidade de conservação amazonense encravada entre os rios Solimões, Japurá e Auati-Paraná. O que na verdade flutua não é exatamente o piso da habitação, mas sim os grossos troncos de madeira assacu sobre os quais a estrutura está apoiada. Esses troncos, de enorme resistência e durabilidade, já boiam na superfície da água, subindo e descendo ao ritmo das cheias e vazantes, há 18 anos. São tão resistentes que sobre eles plantam bana

Relatos amazônicos 6 - Manaus

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“ Manaus não tem nada para se ver”, afirmara-me o motorista de aplicativo manuara lá em Belo Horizonte. O mesmo dissera um dos colegas do grupo da visita às comunidades indígenas. “Além desses quatro ou cinco quarteirões em torno do Teatro Amazonas, não há mais nada de interessante”. Eu reservara quatro dias e meio para a cidade no meu planejamento de viagem, mas, diante dessas avaliações negativas, comecei a pensar em alterar a programação. Presidente Figueiredo e suas cachoeiras, ao norte de Manaus, e Novo Airão e os parques de Anavilhanas e do Jaú, a oeste, pareciam boas opções. A elasticidade da viagem permitiria essas alterações, deixando para a cidade que não tem nada apenas um dia de visitação. Decidi então dedicar esse único dia ao Musa, Museu da Amazônia. Trata-se, digamos assim, da mata teórica. Uma porção da floresta explicada cientificamente a partir da sua flora, dos seus insetos, animais e aves. E dos povos que a habitam. Como uma retrospectiva explicada, vou percor