Relatos amazônicos 5 - Comunidades indígenas

As três canoas descem o rio Negro levadas a remo, conduzindo o grupo de viajantes e uma caixa de isopor com comida e água. Serão três praias fluviais a serem visitadas, superfícies de areia formadas com o recuo das águas do rio nesta época de vazante. Na volta, para subir o rio, os canoeiros ligam os motores. Cada canoa é equipada com um pequeno motor na popa, o que me lembra as “rabetas” do São Francisco.

Esta é a manhã do segundo dia na comunidade indígena de Boa Vista do Rio Negro. Trata-se de um núcleo de 17 famílias da etnia baré que habitam um espaço na margem direita do rio, de onde se tem uma bela paisagem das águas e das elevações que formam a Serra de Tapuruquara. Dessa posição privilegiada quanto à paisagem, veio o nome da comunidade. Na vazante é exposto um largo afloramento rochoso, uma espécie de laje, que serve como porto rudimentar, local de banho e ponto de lavagem de roupas e de diversão.

Passo por uma sensação estranha nesta manhã. A superfície infinita das águas, o sol a brilhar incessantemente no céu sem nuvens, o isolamento deste lugar perdido na margem de um rio amazônico, rio este por sua vez definidor de um espaço de ocupação humana nos confins ocidentais do Brasil, tudo isso acentua em mim aquela tendência a mergulhar no vazio da alma até chegar próximo à despersonalização. Essa tendência, que me persegue incessantemente, agiganta-se com a imensidão do rio, a rusticidade do lugar e o isolamento em que me encontro. Sinto-me então, nesses momentos, como que intoxicado pela liberdade, como se me fosse oferecido um volume extra de oxigênio de alta concentração, que alimenta mas também tonteia – e pode me levar a perder-me irreversivelmente de mim mesmo.

Na tarde do mesmo dia recupero a centralidade. Um dos moradores, José Ribamar, apelidado “Banana”, me leva a conhecer as casas da comunidade. O professor, que aqui reside há dois anos; a professora, nascida na comunidade; o catequista, cuja esposa salga um porco do mato caçado alguns dias atrás. As casas são estruturas construídas com madeira e palha de palmeira. Algumas são palhoças, isto é, completamente feitas de palha, inclusive as paredes. Outras apresentam toscas cumeeiras de zinco, sendo o restante no padrão local de madeira e palha. A única construção de alvenaria é a escola municipal, equipada com três banheiros, mas sem água corrente.

A mandioca e o peixe são a base da alimentação local. A primeira é preparada das mais diversas formas, desde a tapioca assada até o xibé, bebida simples preparada com água e farinha de mandioca. Os peixes são vários, moqueados, fritos ou cozidos.

Aqui vivem 17 famílias, pessoas extremamente rústicas, simples e alegres. Apesar da timidez, olham-nos invariavelmente com um sorriso nos lábios, os olhos pretos e brilhantes anunciando cordialidade e paz interior.

Na noite da nossa chegada a comunidade fez uma apresentação de dança indígena num espaço aberto de chão de terra. Chamam a esse festejo “Festa do Dabacuri”. Vestem-se com trajes típicos e organizam-se em pares, formando uma fila circular. Iniciam então uma dança ritualística, de ritmo hipnótico, que consiste em andar e correr cada vez mais rápido, homem e mulher abraçados. Os homens batem no chão com paus verdes semelhantes a grossos bambus, denominados tabocas, que produzem um som cavo. A esse som se soma o ruído do batido dos pés no chão, que se torna paulatinamente mais e mais forte. Atrás da fila um homem velho, depositário dos saberes da comunidade, vai entoando um canto monocórdico, quase gutural, que orienta a dança. Alguns do nosso gupo aderem a esse cativante bailado indígena.

O rio é tudo para essas comunidades. Nele se pesca, dele se bebe a água, nele se nada, nas suas águas se lavam roupas e vasilhas, dele se capta água para uso doméstico, por ele se desloca de um lugar a outro. Nele as crianças se divertem a todo o tempo e rapidamente nos apercebemos da força e destreza dos meninos, que entram nas águas por vezes turbulentas montados em pequenas e rústicas canoas, equipados com apenas dois remos. Nós, que não ousamos nos afastar da margem nos banhos de rio, avistamos então, ao longe, a canoazinha carregando dois meninos a cruzar intrépida as águas nervosas.

A propósito, o grupo de viajantes rapidamente adere aos hábitos locais. O banho de rio, os folguedos nas praias, a dança, o vólei, o futebol e, principalmente, a dieta de peixe e mandioca, logo passam a fazer parte do cotidiano dos visitantes.

Na manhã do terceiro dia em Boa Vista, a comunidade se despede calorosamente de nós no barranco que margeia o rio. Essas cerimônias de recepção e despedida, bem como as orações antes do almoço e da janta, são frequentes durante a viagem. Nas três comunidades que visitamos, e também na grande maioria das comunidades indígenas amazônicas, os moradores são festivos e marcadamente católicos.

O nosso destino então é um acampamento montado na margem esquerda de um enorme igarapé, de nome Alborá, pertencente ao território da comunidade Uábada II. Eu havia conhecido um pequeno igarapé – um curso de água que nasce na mata e deságua num rio maior – na viagem à região do Tapajós. Mas o Alborá foi uma surpresa. Esse curso de água, largo e volumoso, maior do que muitos rios que conheço no Sudeste e Nordeste, percorre uma região de mata densa. Não há sinais de ocupação humana nas margens. A natureza é exuberante. Enquanto a rabeta sobe o igarapé – pois viajamos em simples rabetas, espremidos dois a dois ou três a três, sem nos mexer – observo maravilhado a riqueza natural do lugar. E constato que as águas puras desse igarapé e as suas margens repletas de verde intocado pelo homem são um dos pontos altos do meu périplo pela Amazônia.

Os olhos do piloto são tudo na viagem fluvial. Segurando firmemente o manche ligado ao motor de popa, ele segue atento, procurando continuamente, sob a superfície das águas, o canal mais profundo, aquilo que Henrique Halfeld, no século XIX, conhecia como talvegue. As águas são verde escuro como as do rio principal, o Negro, e o leigo, como eu, não sabe como esse canal pode ser encontrado sob a massa de água escura. E é notório que muitas vezes o talvegue está onde menos se poderia esperar, bem próximo de uma das margens do rio, longe do seu centro.

Pois é decisivo saber onde está o talvegue. Neste período de vazante, o risco da navegação são os trechos encachoeirados, aqueles pontos em que os afloramentos rochosos do leito do rio estão traiçoeiramente quase na superfície. Formam-se assim cachoeiras, denunciadas pela espuma e pelas bolhas visíveis na superfície. Alguns desses trechos perigosos são cruzados com maestria pelo piloto e, segundo me informa um deles, a rabeta passa com “água no joelho”, isto é, num canal que tem menos de um metro de profundidade. Avança-se contra a correnteza e acima das pedras com o motor em baixa rotação, a hélice suspensa para que não se choque com as rochas, a embarcação esgueirando-se cuidadosamente.

Em outros trechos é impossível a transposição convencional. As pedras estão expostas na superfície, formando cachoeiras e bloqueando a passagem. Então é preciso fazer o que parece impossível. As embarcações encostam na margem; os passageiros descem e a carga é retirada. Esvaziadas as rabetas e a lancha, os barqueiros entram então na água e empurram as embarcações rio acima, usando braços, pernas e cordas. As embarcações são assim praticamente guindadas sobre as pedras. Ultrapassado o trecho encachoeirado, os passageiros, que caminharam pela margem no sentido do transporte, e a carga, também levada pela margem, são reembarcados e a viagem segue. Isso ocorre três vezes durante a jornada.

Antes de chegar ao acampamento fazemos uma rápida parada numa praia na margem esquerda do igarapé. Os organizadores, da comunidade de Uábada II, reuniram ali algumas pessoas, que nos oferecem uma pequena recepção.

Um menininho, terá entre 3 e 4 anos, brinca sentado na areia, ao lado da mãe. Aproximo-me e o olho diretamente. Ele não devolve o olhar direto. Mira-me de baixo para cima, erguendo um pouco o rosto. As mãos permanecem na areia com que brincava.

Enquanto o rosto permanece parcialmente inclinado para baixo, os olhos se fixam em mim, mas de uma maneira enviesada, oblíqua. As íris pretas ocupam a metade superior dos olhos, semi-ocultas pelas pálpebras, enquanto na metade inferior bóia um branco límpido. Há uma infinita desconfiança e bloqueio naquele olhar. As feições se mantêm duras, fechadas. “Autismo? Ou apenas uma timidez extrema?”, conjeturo. Como os índios do passado tratariam uma diferença como essa? Um espírito maligno? Ou alguém dotado de poderes especiais?

Num estalo a mente faz a associação com Pedro. “Mas Pedro era o oposto”, rebato-me, “predisposto demais ao contato, com poucas inibições sociais”.

Afasto-me. A mãe me olha calmamente. Sinto que o olhar oblíquo do menino, sem me acompanhar enquanto me distancio, registra que não sou mais uma ameaça ao mundo interior em que estará, talvez, para sempre preso.

Chegamos no início da tarde ao acampamento armado na margem esquerda do igarapé. Faz um calor úmido e denso, do qual não há como fugir. O acampamento é uma estrutura simples de estacas de madeira e teto de palha, sob a qual se armam as redes em que dormiremos. A bagagem do grupo foi reduzida, tendo o principal seguido para a terceira comunidade a ser visitada, Cartucho, na lancha dos organizadores índios. Conosco restaram as mochilas de “ataque”, isto é, as poucas roupas, materiais e equipamentos necessários à subida da Serra Yakaweni, que é o nosso objetivo nesta etapa.

Essa serra é na realidade um dos seis cerros que formam as chamadas Serras Guerreiras de Tapuruquara. São morros baixos que se destacam na paisagem plana da região. Segundo a crença indígena, esses cerros foram no passado imemorial pessoas, que avançaram pela região com finalidade de guerra.

Devido ao caráter sagrado dos morros, houve discussão nas comunidades sobre a conveniência ou não de se incluí-los no roteiro turístico. Algumas pessoas argumentaram que as serras são sagradas e subi-las seria uma profanação, punida com castigos tais como temporais. Foi vitoriosa a posição favorável à inclusão das serras no roteiro.

Há muitos anos, ouvi o mesmo dos aborígines australianos sobre a Rocha Uluru, um enorme maciço cravado no centro do deserto. Esse monolito, de quase 900 metros de altura, constitui a única elevação na vastidão do deserto australiano e é por isso considerado sagrado pelos aborígenes, que nunca permitiram a sua escalada. O mesmo se dava com o Everest, sagrado e jamais escalado pelos sherpas, até que alpinistas britânicos começaram a tentar fazê-lo, a partir do início do século XX. 

Para subir as Serras de Tapuruquara há alguns preceitos, que devem ser cumpridos por todos, e nos são repassados detalhadamente no acampamento. Antes da subida deve-se lavar o rosto e bochechar com água do rio. Mulheres menstruadas são proibidas de subir. Se a pessoa estiver suada – o que, evidentemente, é uma condição quase absoluta de quem percorre a região –, deve tomar banho. Antes de subir a serra, somos benzidos pela mulher do pajé, por meio de baforadas de cigarro artesanal sopradas em direção ao corpo de cada um de nós.

Também o igarapé e os demais rios são respeitados. Antes de se banhar nas águas do igarapé, o visitante deve deixar uma oferenda para a “velha”, a entidade que guarda o rio. Deixamos então sobre uma grande pedra alguns comestíveis como oferenda à “velha”.

E ainda outros preceitos místicos, tais como não deixar que a água das panelas ferva até “passar”, isto é, transbordar. Não se pode jogar água quente no rio; isto é, água que tenha sido aquecida nos toscos fogões montados a beira-rio. Não se pode deixar o peixe queimar enquanto é assado. E, por fim, não se pode comer comida “mal esquentada”, ou seja, fria.

Conduzidos pelos guias índios, adentramos a mata em direção ao topo de Yakaweni. São algumas horas de caminhada, durante as quais é percorrido um espaço de grande beleza, formado por rica vegetação, córregos e regatos e afloramentos rochosos. Na primeira parte da caminhada sigo próximo do batedor, isto é, do guia que vai à frente com o facão. Observo-o avançar e de vez em quando faço uma pergunta sobre alguma árvore de maior porte; todavia, diferentemente da experiência que tive na Floresta Nacional dos Tapajós, esse guia não era especialmente versado nas plantas da região.

Na segunda parte, na volta do topo em direção ao acampamento, opto por fazer o contrário, isto é, seguir próximo ao último homem da fila indiana. Rosemiro, o “Professor”, leciona em duas escolas públicas e é o responsável pelo projeto de turismo comunitário na sua comunidade de Uábada II. É ele quem detalha para mim a divisão de funções na viagem fluvial e na estada no acampamento na mata. Os proeiros conduzem passageiros e carga nas rabetas e na lancha. Os bagageiros cuidam das bagagens principais dos passageiros, especialmente nas travessias fluviais, quando se tem que descarregá-las e recarregá-las rio acima, nas travessias de trechos encachoeirados. Os cozinheiros encarregam-se de tudo relacionado à alimentação dos viajantes, desde providenciar os alimentos até cozinhá-los e servi-los em pratos simples.

Nas três comunidades que visitamos pudemos notar hábitos peculiares no que diz respeito à manipulação dos alimentos, que diferem inteiramente das nossas práticas urbanas. Durante as refeições os grupos são divididos; os visitantes comem primeiro, depois os locais. Quando é a sua vez de comer, esses últimos utilizam os mesmos pratos em que os primeiros comeram, sem lavá-los. O mesmo ocorre com os copos e canecas. Não se lavam as mãos antes das refeições, mas em Uábada II uma bacia com um volume bem pequeno de água e detergente foi deixada na cozinha para lavarmos as mãos depois da refeição – parece que estavam preocupados com a gordura do peixe nas mãos. Quando servidos em panelas, os deliciosos sucos vêm com uma cuia; nela pegam sucessivamente todos os que se servem do líquido; após se servir em copos ou canecas, cada um deixa novamente a cuia a boiar na panela. Alguém pode também, eventualmente, se servir diretamente da cuia, devolvendo-a à panela depois disso. Trata-se claramente de um antigo hábito indígena. Posteriormente lerei num painel no Museu da Amazônia, em Manaus, que a bebida conhecida como caxiri é bebida em cuias que nas festas passam de uma pessoa a outra.

O hábito de servir os visitantes antes dos locais é geral. Aplica-se tanto a nós, turistas, quanto a comunidades vizinhas ou parentes que se visitem entre si. É muito provável que seja também esse um resquício dos antigos hábitos indígenas.

Nas três comunidades as necessidades fisiológicas são feitas no mato ou no rio. Não há fossas nas casas. Em Cartucho há fossas na escola pública, no centro de saúde e no alojamento que ocupamos. Todavia, no alojamento não há água corrente no lavatório e no vaso sanitário. Indago de Jaciel, o índio baré que coordena regionalmente o projeto, sobre possíveis ações dos órgãos de saúde pública no tocante a ações de saneamento. Mas a resposta é negativa. Um pouco constrangido, me diz que se limitam a orientar os moradores para que façam as necessidades longe da área em que estão as habitações.

Cartucho é uma comunidade de 49 famílias. Está localizada, juntamente com Uábada II, numa grande ilha do Rio Negro, denominada Uábada. Disseram-me na região que essa ilha mede aproximadamente 30 quilômetros de comprimento por 5 a 10 de largura, números que necessitariam verificação mais precisa.

As casas de Cartucho são na sua maioria de madeira, com teto de palha ou zinco, registrando-se uma ou outra estrutura de alvenaria. Não vejo nenhuma palhoça, isto é, casa inteiramente de palha, como pude observar em Boa Vista. Indago a um morador do porquê do uso do zinco, que aumenta consideravelmente o calor no interior da habitação, em relação à palha. Diz-me que a palha de caranã está cada vez mais escassa. Posteriormente me informarão que também as palhas de curuá e sororoca são utilizadas como cobertura das casas.

Um atracadouro bastante simples foi improvisado à beira-rio, cavando-se o barranco marginal ao rio de modo a formar uma concavidade onde as embarcações encostam. Há um ponto de internet na escola municipal local. Como nas outras duas comunidades, a energia elétrica é provida por um gerador alimentado a gasolina.

O dia seguinte ao da nossa chegada a Cartucho é o da subida à Serra Jacuruaru. Mais uma vez, trata-se de um morro baixo, uma das elevações que formam as Serras Guerreiras de Tapururuquara. Uma curta caminhada leva a um largo afloramento rochoso, de inclinação mais ou menos uniforme, de onde se pode divisar uma paisagem de grande beleza, formada pelas águas do Rio Negro, uma pequena ilha arborizada, as demais serras e, ao fundo, o horizonte infinito.

Nessa caminhada somos acompanhados por crianças locais. Há na realidade um deslocamento de pessoas da comunidade, talvez excessivo, que acompanham eventos como esse. Alguns são guias nas trilhas, outros responsáveis pela “merenda”, isto é, pelos alimentos locais servidos durante as caminhadas. E levam os filhos. Essas crianças, espertas e interativas, divertem-se a valer. Enquanto descemos cautelosamente um trecho inclinado do caminho, calçados com as nossas modernas botas de trekking, os meninos e meninas usam as folhas secas da trilha escorregadia para deslizarem ladeira abaixo, calçados apenas com chinelos de dedo. Aliás, em nenhuma das caminhadas pela mata, seja na região do Tapajós, seja aqui no Rio Negro, vi guias e acompanhantes locais com calçados fechados. Nem mesmo uma sandália ou similar. Invariavelmente calçam chinelos de dedo.

Concluída a caminhada, levam-nos a uma praiazinha, para o banho de rio e a merenda. Para onde se olhe, em torno da praia e da pedra vizinha, estão as águas do Rio Negro.

No último dia em Cartucho, alguns de nós fazem uma rápida caminhada pela floresta. Nesta região a mata fornece uma infinidade de recursos alimentares, medicinais e construtivos, sem os quais seria impossível a vida. Retirada uma pequena porção da vegetação, forma-se uma capoeira, onde serão plantadas as roças de mandioca, cará e de frutos como o cubiu, abacaxi, biribá e tucumã. O açaí e a bacaba, que brotam no topo de árvores muito altas, são extraídos pelo sistema conhecido como pecunha. Utiliza-se o cipó embira e uma folha da sororoca, árvore muito parecida com a bananeira (que todavia não fornece frutos), para se improvisar uma amarração por meio da qual se sobe pela árvore até o almejado fruto. Da árvore matamatá se tiram fibras para a confecção de saias femininas. E do bacatão se extrai a dura e resistente madeira utilizada na construção de casas.

Além do português, falado por todos, muitos índios falam também o nheengatu, a língua geral, criada pelos jesuítas no período colonial como forma de comunicação entre índios e colonizadores portugueses. Em várias ocasiões ouvimos os moradores das comunidades falarem entre si em nheengatu, para evitar que entendêssemos o que estavam dizendo. Essa língua, que no período colonial se tornou a língua majoritariamente falada pelos índios brasileiros, predominou na Amazônia até o século XVIII e mantém-se ativa até hoje entre os povos amazônicos. Há estudiosos que afirmam que até 1877 a língua geral foi mais falada do que o português na região, inclusive em cidades como Belém e Manaus. Nesse ano uma grande seca levou à migração de milhares de nordestinos para a Amazônia, com o que o português passou a ser predominante.


O que se come nas comunidades indígenas do Rio Negro (limitado ao que nos foi servido nos dias passados nas comunidades)


Tapioca
Banana frita
Cará
Sucos: abacaxi, caju, limão, cucura, maracujá
Peixes: surubim, mandubé, pirandira, privora, jacundá, aracu, cará, traíra, tucunaré, piranha, piraíba, pacu, pirandiba. Os peixes são preparados cozidos em água com temperos, assados ou moqueados. Quando assados, são previamente enrolados em folhas de sororoca.
Jacaré
Tapioquinha frita
Beiju
Farinha de mandioca
Mingau de goma de tapioca
Mingau de banana
Bolinho de tapioca
Cozido de peixe moqueado
Xibé: bebida feita de farinha e água e tomada rotineiramente, inclusive nas horas de trabalho
Pimenta murupi
Biribá (fruta)
Tucumã (fruta)
Salada de cubiu (fruta)
Curadá: goma de mandioca assada

Além desses, os moradores relataram o hábito de se alimentarem também de carne de porco do mato e de paca, caçados na mata.


Por impedimento legal, não podem ser divulgadas fotos frontais que permitam a identificação de indivíduos pertencentes a populações indígenas.


















































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