Circulando pelo Parque Nacional Peneda-Gerês
Localizado no extremo norte de Portugal, o Parque Nacional Peneda-Gerês foi a primeira área protegida criada no país (1971), sendo também a única com estatuto de parque nacional. Abrange um território de 22 freguesias distribuídas pelos concelhos de Arcos de Valdevez, Melgaço, Montalegre, Ponte da Barca e Terras de Bouro. Esse vasto território, marcado por um bioma próprio e comunidades com características socioculturais específicas, desborda para a Espanha, formando um admirável conjunto de maciços graníticos, matas de carvalhais, vegetação arbustiva, rios, córregos, fontes, cascatas, aldeias, vilas e estradas vicinais. Visitamos o Parque do Gerês,* eu e a amiga Karin Potter, numa agradável semana deste verão europeu de 2020.
O nosso ponto de partida é a típica Vila do Soajo. Ali já somos apresentados ao que estará presente em todas as vilas e aldeias pelas quais passaremos no Gerês: construções em pedra granítica. Um dos destaques são os chamados espigueiros, pequenas edificações geometricamente construídas, dotadas de fendas, que serviam e servem para a secagem do milho. Os pés circulares e elevados da base impedem a entrada de ratos.
Nas proximidades do Soajo, a Ponte da Ladeira, sob a qual passa o Rio Adrão, e o Poço Negro são alguns dos lugares onde é possível se refrescar no calor do verão.
O Santuário de Nossa Senhora da Peneda, construído entre o final do século XVIII e o terceiro quartel do XIX, integra-se harmoniosamente ao maciço granítico ao lado.
Uma rápida e quase noturna caminhada nos leva às ruínas do Castelo de Castro Laboreiro. Apesar do calor excessivo, uma das vantagens de se viajar no verão europeu é que os dias são imensos. As fotos do castelos foram tiradas entre 9 e 10 horas da "noite".
Na graciosa aldeia de Lindoso, destacam-se os socalcos, um tipo de técnica agrícola de plantio em degraus nas encostas montanhosas. O castelo local pode ser visitado e inclui um pequeno núcleo de exposição, com painéis informativos sobre geologia, ocupação humana e trilhas da região.
Um dos sítios arqueológicos que se pode visitar na região é o Núcleo Megalítico do Mezio. Lá se podem observar as estruturas em pedra conhecidas localmente como "mamoas", que serviram ao enterramento e a rituais. O painel descritivo da arqueologia do Gerês é exibido no castelo de Lindoso.
Um dos grandes momentos da nossa viagem: a caminhada por um dos trechos da chamada GR50, ou Grande Rota Peneda-Gerês. Com uma extensão total de cerca de 200 quilômetros, a GR50 divide-se em 19 etapas, atravessando o Parque Nacional desde a Ameijoeira, em Castro Laboreiro, até Tourém, na sua extremidade nordeste. O nosso percurso foi entre a Vila do Gerês e a Aldeia da Ermida, uma trilha de 9,4 quilômetros entre carvalhais, pastagens antigas, miradouros e belas paisagens. Na fase final da trilha, banhamo-nos na Cascata do Arado, com um volume de água bastante reduzido nesta época do ano. Uma vez chegados à Ermida, almoçamos num pequeno restaurante, acompanhando a refeição com o saboroso vinho verde, e seguimos, sempre a pé, para a Cascata do Tahiti, a 2,1 quilômetros de distância.
Do alto do Miradouro da Pedra Bela divisa-se boa parte da região, inclusive a Vila do Gerês (foto). Informa-nos o atendente do posto turístico da Ermida, um senhor já idoso, que em dias abertos se pode enxergar, da Pedra Bela, o topo do Santuário Bom Jesus do Matozinhos, na distante Braga.
O chamado Museu Etnográfico de Campos do Gerês é, na realidade, um ambicioso centro de exposição da natureza, história e cultura da região. Destacam-se os espaços dedicados à geologia e à vegetação, a reconstituição da antiga vida comunitária nas aldeias e vilas e o salão com painéis, maquetes e peças museológicas voltados para a rede viária romana que percorreu a região a partir do século I d.C.
Num golpe de sorte, encerramos os quatro dias de viagem pelo Gerês com um passeio pelo que restou de uma dessas antigas vias romanas. Num curto vestígio da "Geira Romana", cravado entre pequenas aldeias da Vila de Terras de Bouro, podem-se observar os calçadões de pedra e os muros de contenção erguidos pelos romanos.
Inaugurada por volta do ano 80, a Geira era denominada, pelos romanos, de "Via Nova", pois veio a substituir uma estrada primitiva e mais longa. Originalmente, a Via Nova ligava dois importantes lugares da Península Ibérica: Bracara Augusta (hoje Braga, Portugal) e Asturica Augusta (hoje Astorga, Espanha), uma rota de aproximadamente 318 quilômetros. Trata-se de uma das estradas romanas mais bem conservadas da península e com o maior número de miliários (281), isto é, marcos instalados na margem da estrada com indicação de distância em milhas.
* Na realidade, a denominação popular "Parque do Gerês" não é geograficamente exata. O Parque Nacional Peneda-Gerês abrange, além da Serra do Gerês, também as serras da Peneda, do Soajo e Amarela.
* Na realidade, a denominação popular "Parque do Gerês" não é geograficamente exata. O Parque Nacional Peneda-Gerês abrange, além da Serra do Gerês, também as serras da Peneda, do Soajo e Amarela.
Ostei das fotos e do relato. Parabéns!
ResponderExcluirFez bem em ir embora. Ainda estamos trancados em casa e sem perspectiva de que a curva vá achatar.
Se eu pudesse também cairia fora desse país e iria contemplar outras paisagens. Enquanto não posso, vou resistindo e lutando contra esse mal que assolou nosso país.
👍
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